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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Trauma de Campina Grande atende o dobro da capacidade, diz diretoria

Pacientes ficam internados em cadeiras pois não há leitos suficientes.
Diretoria quer hospital de suporte e que pacientes sejam atendidos em PSF.

 

Os pacientes que procuram atendimento no Hospital de Trauma Dom Luís Gonzaga Fernandes de Campina Grande, no Agreste paraíbano, estão tendo problemas com a superlotação da unidade hospitalar. Segundo a diretoria, o hospital tem atendido até mais que o dobro da sua capacidade. Uma reunião será realizada na sexta-feira (31) para tentar resolver o problema, mas a própria direção do hospital entrou em contato com o G1 para denunciar a situação.
Pacientes esperam por atendimento até por quatro horas e recepção de hospital fica lotada (Foto: Rafael Melo/G1)Pacientes esperam por até quatro horas e recepção de hospital fica lotada (Foto: Rafael Melo/G1)
Segundo o diretor técnico do Trauma, Flawbert Cruz, são realizados no local cerca de 10 mil procedimentos de consultas por mês e a unidade só comporta 40% desse total. Ele também disse que se internam todos os meses entre 1.500 e 2 mil pacientes quando a capacidade máxima seria de até mil internações por mês. São 260 leitos no total e 60% dos atendimentos são de casos que não deveriam ser atendidos no local.
O diretor atribui o problema da superlotação ao fato de não existir um hospital de suporte para os casos considerados de menor complexidade. "O hospital é para receber os casos de emergência e trauma, mas está atendendo casos simples que poderiam ser tranquilamente tratados em uma unidade menor. Isso provoca um inchaço no Trauma", disse. Ainda segundo ele, o máximo de cirurgias que deveriam ser feitas é de 600 e estão sendo realizadas 800. Já os exames de tomografia não poderiam ultrapassar os 500 por mês e totalizam uma média de 900.
Ele explicou que a unidade atende aos pacientes em quatro níveis de risco diferentes, que são classificados em cores que apontam a gravidade da doença. Os casos das alas verde e azul são geralmente problemas que poderiam ser atendidos em Unidades Básicas de Saúde ou em hospitais menores. O clínico geral José Ricardo Cavalcanti, responsável por fazer a primeira avaliação dos pacientes, esclareceu quais são os tipos de doença. "Dor de garganta, diarreia, náusea, enjoo, doenças crônicas, febre, desidratação, hipertensão, dor torácica e cansaço são doenças que não fazem parte da especialidade de uma emergência e são os mais comuns neste local", disse.
Marcos foi orientado no hospital a procurar atendimento em outro lugar (Foto: Rafael Melo/G1)Marcos foi orientado no hospital a procurar
atendimento em outro lugar (Foto: Rafael Melo/G1)
O auxiliar de produção José Marcos de Oliveira, por exemplo, estava com dores na barriga e procurou o Hospital. Após esperar quase três horas ele foi informado por uma enfermeira que deveria procurar atendimento em um local que não fosse de emergência. "Se eu soubesse não teria vindo aqui, teria ido direto para a UPA", disse.
Um levantamento feito pela assessoria de imprensa do hospital mostrou que nas alas vermelha e amarela, onde se concentram os casos mais graves, a superlotação chega a quase o triplo da capacidade. Na ala vermelha são apenas sete leitos, mas há 20 ocupantes. Já na ala amarela são 26 leitos. Pacientes, no entanto, somam 70. Como não há espaço para todo mundo, os doentes aguardam sentados em cadeiras até que um paciente vague um dos leitos. "Parece um estacionamento, é um atrás do outro esperando que o que está na cama receba alta ou morra para assumir o lugar", disse Flawbert.
Pacientes ficam em cadeiras porque não há mais leitos (Foto: Rafael Melo/G1)
Pacientes ficam em cadeiras porque não há mais
leitos (Foto: Rafael Melo/G1)
 
Luiz José de Farias está internado desde o domingo (26) e fica sentado em uma cadeira já que não há vaga nos leitos. "É muito desconfortável. Ainda bem que já recebi alta", disse. Ele é da cidade de Orobó, Pernambuco, e a vinda de pacientes de outras cidades e até outros estados para o Trauma seria uma das razões da superlotação. "Vem gente de Patos, no Sertão, porque lá não está realizando cirurgias. Pode vir de todo canto que nós atendemos, mas a demanda está muito grande", disse o médico Palmerindo Mendonça.
Para melhorar um pouco a situação, a diretoria acabou com duas enfermarias que funcionavam como celas para pacientes vindos de presídios e com uma brinquedoteca da ala pediátrica para transformar em enfermarias. Além das camas, as macas que são utilizadas para transportar os pacientes dentro da unidade estão sendo deixadas nas alas para atender a demanda. Até as macas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ficam no hospital.
Como solução, o hospital fechou um convênio com o Hospital Pedro I que emprestava 30 leitos à unidade, mas o atendimento não ocorre porque não há médicos no hospital, segundo Flawbert. Ele disse que até casos psiquiátricos e oncológicos são encaminhados para o Trauma quando deveriam ser remetidos para os hospitais Dr. Maia e a Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), respectivamente.
Filas se formam com pacientes na entrada do bloco cirúrgico (Foto: Rafael Melo/G1)
Filas se formam com pacientes na entrada do bloco
cirúrgico (Foto: Rafael Melo/G1)
 
Segundo a médica Valéria Lucena, o problema está na saúde básica. "Os casos deveriam ser tratados rigorosamente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e nos Postos de Saúde da Família (PSFs). A questão é que não há atendimento nem apoio laboratorial. Nunca tem médico e o atendimento que existe é mal feito", denunciou.
Os médicos dos PSFs de Campina Grande estão em greve há mais de três meses. O Tribunal de Justiça da Paraíba julgou ilegal o movimento e determinou que os profissionais voltassem ao trabalho, mas a classe não foi notificada e quase 200 mil pessoas que utilizam o serviço estão sem atendimento nos bairros. A secretária de saúde do município, Marisa Agra, disse que tem uma proposta para a classe, mas que não pode apresentar neste momento por conta do período eleitoral.
Para resolver a situação, o hospital marcou uma reunião com diretores de outros hospitais da cidade, com promotores do Ministério Público e representantes das secretarias de saúde do município e do Estado na próxima sexta-feira (31). A Secretaria de Saúde do Estado informou que vai apresentar um projeto para solucionar os problemas nesta reunião. "O atendimento está travado. Então, se ficar com briga entre estado e município e nada for feito, o povo vai morrer", argumentou o presidente da Cooperativa dos Cirurgiões de Campina Grande, Jean Almeida.

Fonte: G1PB

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